sexta-feira, 12 de julho de 2013

Diários Não Autorizados da Ruiva do Andar de Baixo - Parte III

Sentia-se uma esquizofrênica.
Deitada na varanda de casa, os pés encostados na parede, as mãos cobrindo o rosto contra a luz do sol forte e os fones de ouvido contornando o busto por onde o fio passava...
Não era bonita.
De longe!
Era bem desajeitada. Cabelos nem curtos nem longos. Ruivos.
Uma aura encantada, mas assustadoramente distante...
Queria saber o que ela ouvia, via sua cabeça dançando, via seus lábios se movendo...
Era bonita naquele instante.

No segundo momento, despertou de um sono distante e levantou-se. Caminhou para a porta de acesso à casa com um olhar vago.
Deveria ter o que fazer, mas se sentia improdutiva.
Tinha problemas de foco, não se concentrava em nada por muito tempo...
Dado alguns minutos, passava a despedaçar a borracha, a morder o lápis, a olha o teto, a girar na cadeira e a pensar em alguém.
                                   [desconhecido por mim]
A Ruiva se levantou, caminhou e sentou de novo diante da escrivaninha.
Nada.
Absolutamente nada.
Só a dúvida e a perturbação cotidiana...
Mas a isso ela já estava habituada, só não se habituava a estudar e a ser disciplinada.

Voltou pra varanda e adormeceu durante seu banho de luz.

Cantaleu

Somos desprovidas de dotes... e de que isso importa?
Não temos uma voz boa, não tocamos nenhum instrumento (objetos valem?)
Somos descoordenadas,
Completamente incapacitadas de exercer qualquer função
Que necessite de uma equação.

Ela possui uma boa voz e toca alguma coisa.
E eu uma caneta e um papel.

Dane-se!
Eu escrevo e ela canta.

Caixa de Textos